Estava ela chegando em casa naquela noite com várias dúvidas e perguntas na cabeça.
Muito cansaço, muita dor nas pernas, saudade...
Chegando em casa, ela trava um diálogo com sua irmã e, ao olhar para o canto do quarto, ela se depara com uma bonequinha que ela estava fazendo para dar de presente para uma amiga dela, mas que, por ser de papel e ser bem chato pra fazer, estava demorando um certo tempo para acabar...
Neste momento, todos os pensamentos de sua cabeça deram espaço para a árdua tarefa de continuar com aquele trabalho.
...
Dobraduras, montagem e colagem.
Basicamente.
...
Pensando sobre isso e, lembrando da conversa com a mana, acabou se lembrando de uma estória que ouvira a muito tempo atrás...
Conta-se que havia um rei em algum lugar, que era muito rico e se chamava Midas.
Embora ele possuísse muitas riquezas, ainda assim não estava satisfeito.
Mantinha seu tesouro guardado em enormes cofres nos subterrâneos do palácio, e passava muitas horas por dia contando e recontando seus preciosos bens.
O tal rei, o rei Midas, tinha uma filha, seu nome era Àurea, a quem ele muito amava e desejava ardentemente transformar na mais rica princesa do mundo.
A pequenina, porém, não se importava com a riqueza do pai. Ela gostava, em verdade, de seu jardim, das flores e do sol.
Passava a maior parte de seu tempo sozinha, pois seu pai estava sempre ocupado, buscando novas maneiras de conseguir mais e mais ouro, nunca tendo tempo para brincar ou passear com ela.
Um dia, quando o rei Midas encontrava-se sozinho trancado em uma das ricas salas onde costumava admirar suas valiosas jóias, notou a presença de um estranho que lhe sorria.
Surpreso, o rei Midas pôs-se a conversar com o estranho, a fim de descobrir como ele havia conseguido ali entrar.
A conversa, porém, tomou outro rumo e o rei Midas confessou ao estranho que seu maior desejo era ser capaz de transformar em ouro tudo que tocasse.
O estranho disse-lhe, então, que a partir da manhã seguinte seu desejo seria atendido, passando ele a ter o toque do ouro.
Como o estranho desapareceu sem deixar qualquer vestígio, o rei pensou ter sido tomado por alguma alucinação e imaginou como seria maravilhoso se seu sonho tornasse-se realidade.
Na manhã seguinte, quando os primeiros raios de sol invadiram seus aposentos, o rei esticou sua mão e tocou a coberta da cama que subitamente transformou-se em ouro puro.
Maravilhado com aquele prodígio, ele saltou da cama e correu pelo quarto, tocando em tudo o que ali havia.
O manto real, os chinelos, os móveis, tudo virou ouro.
Maravilhado o rei decidiu fazer uma surpresa para a filha e foi até o jardim e tocou todas as flores, transformando-as em ouro, certo de que isso alegraria também a pequenina Àurea.
Quando voltou ao quarto percebeu, um tanto contrariado, que não mais conseguia alimentar-se, nem matar sua sede, pois tudo que suas mãos tocavam transformava-se imediatamente em ouro.
Nesse momento, Àurea entrou no quarto do pai aos prantos, com uma das suas rosas na mão, dizendo-lhe que todas as suas flores encontravam-se naquele estado: sem vida,duras e feias, que não mais se podia sentir-lhes o perfume, nem mesmo a maciez das pétalas.
Ao notar a preocupação que tomou o semblante do pai, ela aproximou-se lentamente e o envolveu em um carinhoso abraço.
No mesmo instante, o rei Midas soltou um grito de pavor.
Ao tocá-lo o lindo rostinho da filha transformou-se em ouro brilhante, os olhos não mais viam, tampouco os lábios conseguiam beijá-lo.
Ela havia deixado de ser uma adorável e carinhosa menina para transformar-se em uma estatueta de ouro.
Desesperado, o poderoso rei, ciente de sua desdita, jogou-se ao chão percebendo que havia perdido o único bem que lhe era realmente importante...
E foi exatamente isso que ela e a mana estavam falando!
Muitas vezes temos sido seduzidos aos encantos e as ilusões do mundo, tendo sempre o que outro tem ou sabe fazer como melhor do que as nossas coisas e o que podemos fazer.
Pense nisso!
Será que estamos dando o valor merecido aos nossos dons e valores?
Estamos satisfeitos com o que temos?
Sentimos inveja ou desejamos as coisas que os outros tem ou sabem fazer?
Como disse a mana:
"Fique com os seus dons... porque depois de descobertos, passamos a ser não o que somos, mas o que sabemos fazer (ou temos)..."
^^