sexta-feira, 14 de novembro de 2008

... ela têve um ato insano I

... ela têve um ato insano.
Depois de 40 tentativas frustradas ao celular, ela desistiu. Foi embora para a sua casa atual... dentro dela havia um vazio. Uma sensação de impotência e desagrado dentro de si. Isso atacou a dor já inativa de seu estômago e causou uma nova na cabeça...
E lá foi ela, dentro do carro de uma amiga para casa. Do lado de fora a chuva caia branda... do lado de dentro, uma lágrima...
Com um susto que ela achou que poderia ser um devaneio, percebeu que seu celular tocava dentro de sua bolsa. Suas mãos ficaram gélidas e escorregadias. Seus lábios empalideceram ao ver quem era...
Ficou imóvel...
Seu coração batia descompassado. Quase não acreditou no que via.
Sem reação lhe surgiu um pensamento: “... bem que eu poderia não atendê-lo também...”. Mas antes que o mesmo desaparecesse de sua mente, o coração já havia pensado primeiro e antes que se desse conta de si já estava dizendo “Alô!”.
Do outro lado da linha ele apenas perguntava onde estava... Ela respondeu: “... indo pra casa...”, e ele num ar de nervoso: “... mas exatamente ONDE?”
Depois de explicar, surge um silêncio congelante do outro lado da linha até que ela escuta: “... passa aqui em casa...”. Não era um simples pedido. Era uma súplica, mas que para ela soou como uma obrigação...
Parada à porta da casa dele, a chuva já menos branda que outrora, ela o vê surgir... seus olhos não vão ao encontro dos dela, ao invés ele faz um gesto para que ela entre e fecha a porta atrás deles.
Já dentro, ele pede que ela o espere tomar banho e ela, bem aflita, atende mais um pedido...
Demorados 15 minutos – ou menos, de tão apreensiva não saberia dizer ao certo quanto tempo esperou – ele retorna a sala. Um edredom azul, o mesmo do primeiro sonho e um olhar sem emoção.
Em silêncio ele liga a TV e os dois – ainda em silêncio – deitam no sofá.
Ele, com a cabeça encostada nos seios dela e ela, com a visão completa da TV as mãos livres, que foram quase automáticas nos cabelos dele...
O silêncio têve fim quando ele contou um dos motivos de sua tristeza... Ela também se entristeceu... Queria poder fazer algo mais do que simplesmente estar ali... têve vontade de chorar...
Mas apenas o abraçou... ora com intensidade, ora com força... não sabia o que dizer. E não disse...
Carinhos foram dados da parte dele para ela e vice e versa...
E os dois adormeceram...
Ela estava sonhando. Não se lembra do que era, mas seu corpo se projetou para sua cama... era como se não estivesse mais dividindo o sofá com ele... Só foi se dar conta de onde estava num instante que ele se movimentou e ela acordou assustada... Ele ficou sem entender por alguns instantes e ainda perguntou o que era, ela não sabia explicar...
E se abraçaram...
Quando se soltaram, os dois ficaram se olhando... os olhos muito perto... narizes quase se tocavam...
Ele a enlaçava em seus braços. Ela com umas das mãos no peito dele.
Ela não conseguia tirar os olhos dos olhos dele... Queria dizer: “Meu Deus, que olho lindo!”. Mas antes que pudesse dizer algo, ele a beijou na testa, e na bochecha e por fim, bem próximo a boca...
Num susto e talvez um devaneio ela pensou: “... nossa, e agora? Somos amigos... será que pode?”. Mas antes de qualquer outro pensamento ele a beijou...
...
E no momento seguinte ele desligou a TV e os dois ficaram a se beijar... e tão somente isso. Precisaria de algo mais? Não...
E casa segundo que se passava, mas ela relaxava nos braços dele... e sentia o mesmo da outra parte.
Num pensamento íntimo e quase inaudível – e que poderia ter sido esquecido – eles perceberam que era tarde.
Desceram rumo a casa dela sem se tocarem. Somente conversas. Amigos...
A despedida, na esquina da rua dela, um abraço e um beijo – no rosto. E a pergunta que ela mais sentiu falta em escutar vindo dele: “Vai ficar bem?”. “Sim...”.
E se foi...
Pensamentos soltos dentro de sua cabeça a fizeram sonhar naquela noite.
Era um sonho escuro. Bem diferente dos que ela costuma ter...
Estava andando numa cidade, parecia com as cidades que costumamos ver em filmes americanos, onde as casas – enormes – não tem muros entre elas. Ela entra em uma delas e ouve a voz de alguém chorando... O som se intensifica quando se aproxima da escada. Ela sobe. Há um quarto com a porta aberta, mas a luz está apagada, ele é iluminado somente pela luz que vem de fora da janela.
Ela entra...
E ao entrar se depara com uma cena estranha. Existe uma caixa transparente e dentro dela... ele.
Ela vai ao encontro e não consegue abrir. E ele não pode escutar... Ela se desespera. Não sabe o que fazer...
E acorda...
Acorda em sua cama as 3hs da manhã.
Seria delírio? Seria devaneio? Até onde aconteceu de verdade?
...

Nenhum comentário: